terça-feira, 2 de agosto de 2016

O palmeirense merece ser estudado pela antropologia



Seja sincero, torcedor,

Digamos que, hipoteticamente, seu time é líder do campeonato brasileiro. Já se mantem na posição há algumas rodadas e faz algumas belíssimas exibições, claramente acima da média do certame. Tem um excepcional poderio ofensivo, uma defesa segura e um ídolo no gol. Nada parece poder abalar a confiança.

Qual é seu pensamento? Que o título virá com quatro ou cinco rodadas de antecedência? Ok, eu diria que é normal.

Mas, ainda hipoteticamente, sem seu craque e artilheiro, que foi para a seleção brasileira, seu time perde duas partidas seguidas, ambas mostrando um futebol irreconhecível. Uma delas, para um time na zona de rebaixamento. Para piorar, o tal goleiro ídolo fratura o cotovelo e fica fora pelo restante do certame. E agora, o que pensar?

Provavelmente, o palmeirense é o único que entra em desespero e começa a cogitar que "vai ser difícil chegar aos 45 pontos".

O palmeirense é uma figura surreal. Ele é capaz da mais ingênua euforia, como o clássico "empolgou" de Paulo Nobre antes da trágica temporada de 2014, mas também do mais insensato desespero. Ele cria ídolos em questão de segundos e os vilaniza na mesma velocidade. Ele ainda é capaz de ser o mais sebastianista dos torcedores, sentindo saudades de figuras absolutamente comuns, implorando pelo retorno deles como salvadores da pátria, como foi com Kléber Gladiador ou Henrique.

Sim, a equipe foi muito mal em seus últimos dois embates. É normal que a confiança seja abalada, que o título não seja visto de forma tão palpável, que alguns fios de cabelo a mais caiam, que o sono demore mais para chegar. Mas não é normal pensar em rebaixamento, achar que todo o trabalho já feito é um lixo, que os jovens que vinham sendo fundamentais, de repente, se tornaram bagres.

Mas, porém, todavia, se o palmeirense é assim existe apenas um culpado: o Palmeiras.

O Palmeiras de alguns anos pra cá é uma entidade inexplicável. Liderar um campeonato é conviver intimamente com o fantasma de 2009. Perde quando tem tudo para ganhar, e quando tem tudo para perder, ganha com gol de Betinho. Não pode jogar um futebol vistoso e predestinado aos louros que é imediatamente assolado por lesões.

A perda de Fernando Prass é um tiro no coração. E pode nos custar o título. Vágner foi bem contra o Atlético Mineiro, em sua estreia, mas desastroso contra o Botafogo. Se continuar falhando, logo estaremos pedindo aos deuses que nos enviem um novo São Marcos. Mas agora, façamos a reflexão: em que outro time isso poderia acontecer?

Só no Palmeiras. Se Fernando Prass jogasse no Corinthians, no Flamengo ou no Santos, ele jamais se machucaria com o time da liderança, buscando diretamente o título. É como se houvessem muitos pecados que ainda precisam ser pagos para que a felicidade possa novamente tomar o palmeirense por completo.

Até que isso aconteça, o palmeirense segue sofrendo, segue sempre desconfiado, sempre esperando pela próxima tragédia. E sendo essa figura folclórica que rende textos como esse e certamente merece um estudo antropológico.