sábado, 25 de junho de 2016

Domingos de vingança

Esse texto contém spoilers sobre o nono episódio da sexta temporada de Game of Thrones.

No último domingo, 19 de junho de 2016, o mundo assistiu uma grande história de vingança. A família Stark retomou sua casa, Winterfell, e a jovem Sansa deu o vilão Ramsay Bolton para os cães comerem no seriado Game of Thrones. Foram três anos de expectativa - ao menos na contagem do mundo real - dos fãs dessa história ficcional para que seus queridos personagens fossem devidamente vingados.

Exatamente uma semana depois, a expectativa é por outra batalha que pode se encerrar com o doce gosto da vingança e da justiça.

A famosa mão de Thierry Henry

O estádio Parc Olympique Lyonnais, em Lyon, recebe o confronto entre França e Irlanda, válido pelas oitavas de final da Eurocopa. Será a primeira vez que as duas seleções se enfrentarão desde o duelo da mão de Thierry Henry, que classificou os franceses e eliminou os irlandeses da Copa do Mundo de 2010. Um episódio que, com certeza, é tão entalado na garganta da nação insular como a perda de Winterfell dos fãs de Game of Thrones.

Em 18 de novembro de 2009, o confronto foi em Saint-Dennis, na capital francesa, e valia uma vaga para o mundial da África do Sul. Na prorrogação, com a equipe de verde dominando as ações, Henry ajeitou uma bola claramente com o braço para que o zagueiro William Gallas selasse o passaporte da França para a terra de Nelson Mandela. A arbitragem não viu, os pedidos de anulação da partida foram ignorados e a mágoa se abateu sobre o futebol irlandês.

A França não é futebolisticamente tão abjeta como a família Bolton na ficção, mas cai sobre ela o papel de vilã. E sendo um duelo de grande contra pequeno, de campeã mundial contra país que não frequenta um mundial desde 2002, as proporções da batalha do próximo domingo se assemelham ao que vimos no seriado, quando os Stark marcharam em número infinitamente menor para tentar recuperar suas terras, sua honra e sentir o sabor da vingança.

É nessas horas que o futebol impressiona. Por mais que o jogo valha muito para a França - uma grande competição dentro de casa sempre mobiliza um país emocionalmente - para os irlandeses é possivelmente o grande dia das carreiras desses jogadores. Restaurar uma injustiça em um estádio tomado pela torcida adversária, que é bem superior tecnicamente. É o dia de dar o sangue, de suar até as últimas gotas, de deixar a alma dentro de campo. Se fosse uma guerra, muitos se sacrificariam.

Porque o que faz do esporte algo tão incrível é que a qualquer momento é possível vencer. A Islândia, com seus 330.000 habitantes e 100 jogadores profissionais, vem mostrando isso. E assim, nossas vidas são inspiradas. Nada é impossível. Seguimos em frente porque temos objetivos. As probabilidades podem estar contrárias, mas a virada pode ser no dia de amanhã. Como 2.000 homens podem vencer 5.000 em uma batalha. Não é sempre que vai acontecer, mas não se deixa de lutar.

Os Stark retomaram Winterfell contra as probabilidades. Ramsay foi devorado pelos cachorros. No domingo, a França é a vilã dos irlandeses. Se eles saírem de campo vitoriosos pode ser mais uma dessas histórias marcantes, que podem virar filme algum tempo depois.

 Só resta saber quem pode ser o Mindinho da batalha de Lyon.

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